“Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso
Senhor, que me considerou fiel,
designando-me para o ministério” (I Tm.1:12)
Ontem foi dia
de eleição pastoral em nossa igreja. Pela vontade soberana de Deus, pelo voto
da maioria dos membros presentes fui reeleito para continuar a jornada
ministerial à frente da Igreja Presbiteriana Mãe de João Dourado por mais três
anos. O desafio fica maior quando penso que já são quinze anos de pastorado da mesma igreja.
Sinceramente,
quanto leio o texto supra citado, sinto-me tomado por semelhantes sentimentos
que deveriam estar latejantes na mente do Apóstolo Paulo. De fato ser designado
por Deus para tão sublime vocação é um grande privilégio e abundante Graça de
Deus em favor de miseráveis pecadores como nós.
Assim, quero
manifestar primeiramente minha sincera gratidão ao Deus eterno que me atraiu
para esta santa vocação. Tenho plena convicção do chamado divino. Sei onde,
quando e as circunstâncias que Ele sinalizou favorável a mim e nesta carreira
ministerial estou completando 24 anos ininterruptos servindo ao Senhor da
seara. Não sei por que Ele me escolheu, mas me satisfaz plenamente saber que
sou um dos seus escolhidos para testemunhar do Evangelho da Graça. Não tenho
nada a lamentar. Tenho muito que agradecer a este Deus maravilhoso que nunca me
deixou só, e nos momentos mais difíceis e de perigos de naufragar Ele sempre me
estendeu sua mão, mostrando-me o escape, alertando-me dos perigos, corrigindo-me
com amor para que eu não caia em insensatez. Tu Senhor és o único Digno de
honras, glória e louvor...
Não posso
esquecer da minha família. Minha esposa, meus filhos, meus pais, irmãos sogro,
sogra, cunhados, enfim, todos aqueles que de forma incondicional estão ao meu
lado dia a dia. Tenho uma dívida de gratidão à minha amada família.
Minha sincera
gratidão ao Conselho de Presbíteros e a
Junta Diaconal da nossa igreja, irmãos, amigos, parceiros e cúmplices nesta
longa jornada ministerial de quinze anos, alguns já in memória, outros que não
mais presentes no dia a dia das nossas reuniões e decisões, mas são suportes e
mourões incentivadores dos que estão
efetivos no ofício ministerial.
Sinto-me
apoiado e encorajado pela lealdade e dedicação dos nossos departamentos
internos, ministérios e voluntários incansáveis que sempre estão
junto a mim na dinâmica cotidiana rumo ao aperfeiçoamento dos dons e serviços na igreja local e no Reino de Deus.
Agradeço a
Deus pela honra de pastorear a Igreja Presbiteriana Mãe e ser tão bem tratado,
honrado e respeitado por tantos irmãos.
Sou pastor das ovelhas de Cristo e agradeço muito àqueles que deixam-se
ser pastoreados porque reconhecem a autoridade de Deus sobre mim. Falo com
emoção da minha alegria indizível para com aqueles que caminham comigo no dia a
dia da vida, sabem quem eu sou, sentem o meu cheiro ( ainda que às vezes
desagradável, mas continuam perto de mim), curtem a minha dor, compartilham
meus sofrimentos, celebram minhas alegrias, são empáticos nas minhas fraquezas
e não me veem como um super-pastor. Agradeço pelos intercessores anônimos,
incansáveis que de bastidores sustentam minhas mãos levantadas nas batalhas em
prol do Evangelho de Cristo. Fico muito agradecido pela paciência naqueles dias
que “entro em campo” preparado para pregar e tomado pelo cansaço e
circunstâncias do próprio ministério não consigo lançar com a merecida
vivacidade a Bendita Semente aos corações carecentes de uma Palavra de Vida.
Ainda assim os estimados irmãos aguentam firme, torcendo para o “atleta”
fazê-los vibrar com o gol (o alvo, a
meta). Sinto-me feliz e responsabilizado
pelo sorriso de muitas crianças que com ternura chegam perto de mim e me abraçam.
Tenho a indescritível honra de andar pelas ruas e às vezes ouvir um pequenino
gritar: Pastor! Pastor! e quando me
aproximo, aquele olhar penetrante da alma infantil a confabular no meu ser o
sentimento de confiança em mim, como que dizendo: Pastor, não me decepcione!
Você é uma inspiração para eu seguir a Jesus!. Saio destes casuais encontros
com um clamor ardente na alma: “Senhor, mais um motivo para não vacilar.
Crianças estão olhando para mim. Ajuda-me a não decepcioná-las. Sou gratos aos
respeitáveis idosos que ficam de pé para falar comigo e me encorajam com seus
exemplos de fé e amor cristão.
Me constranjo
ao ver homens e mulheres desta cidade que não são da Igreja, não confessam a fé
evangélica e no entanto tem por mim grande consideração e respeito. Alguns são
capazes até de comprar uma “briga” para defender-me. Como me faz bem saber que
alguns queridos tem como estratégia para
encorajar-me o honroso convite para ir em suas casas, às vezes em baixo de uma
árvore, numa roça, em algum lugar para comer um churrasco, um peixe assado, uma
tripa frita, cuscuz com mocotó, um suco de umbu bem gelado, um lanche, um
cafezinho e tantas outras delícias do sertão. Confesso que estes encontros se
destacam entre os bons momentos que mais tenho sentido a presença de Deus. Às
vezes, enquanto comemos, sorrimos,
brincamos e até choramos sentimos algo
inconfundível, como se Jesus estivesse ali comendo enquanto
ouve nossa boa prosa. Apesar de ganhar uma média de um quilo por
ano, estes encontros são marcados por
algo mais gostoso e atraente do que a comida.
Quem sou eu
para ser tratado assim! Deus faz isso comigo sem eu merecer. Eu não sou culpado
que Deus resolveu me amar tanto!. Tenho um colega que sempre que ligo para ele
e pergunto: E ai, como vai? Sua resposta ainda que nos piores momentos da sua
vida, sempre é: “Estou melhor do que eu mereço”! É o que posso dizer da minha
vida ministerial. Estou bem melhor do que eu mereço. Posso dizer que não
conheço dores e decepções no ministério pastoral. Às vezes falo ao Senhor em
meus pensamentos particulares com Ele: Senhor, se tens me poupado até aqui,
faça que seja assim até o fim da trajetória. Isso não tem nada a ver com
confissão positiva, teologia da prosperidade e coisas do gênero. Sei que estou
sujeito às tempestades inesperadas, mas quero continuar fazendo a oração de
Jabez:
“Senhor, que me abençoes, que seja sobre mim a tua mão, que alargues as minhas
fronteiras e me preserves do mal, de que modo que não me venha nenhuma
aflição”(I Co.4:9-10)
Tenho recebido
grande apoio e solidariedade companheiros de jornada ministerial. Eles me honram
muito e festejam comigo as minhas vitórias.
Lembro-me da
mensagem do saudoso Rev. Valmir Soares no culto de formatura da nossa turma no
ano de 1989 em Recife. Ele alertava-nos sobre a dura realidade do ministério.
Dizia ele que não teríamos uma caminhada sem cruz, sem sofrimento e
perseguições, porque esta é uma marca do verdadeiro discípulo de Cristo. É
natural que muitas vezes soframos insatisfação e crítica. Elas, via de regra tem duas origens:
Podem resultar do nosso erro, de vacilo da caminhada que causou vergonha e
vexame para o Evangelho ou elas também podem originar daqueles que colocam
questões egoístas e carnais acima da verdade e do amor cristão. Na primeira
situação só nos resta correr para o esconderijo do Altíssimo e ser tratado por Ele.
É o único lugar que a gente encontra na medida certa Justiça, Misericórdia e
Graça. Esperto foi o Rei Davi quando disse “Prefiro cair nas mãos de Deus do que dos
homens”. Na segunda alternativa o
lugar para se esconder continua o mesmo.
Contudo, se tiver que encarar a dureza do ministério, que seja pela firmeza em
defender os valores eternos do Reino de Deus, independente das consequências.
Se Deus
permitir terei mais três anos para dar continuidade ao ministério que Deus me
habilita a realizar em João Dourado. Temos muito por fazer. Que Ele me conceda
Graça e Força para continuar servindo até o final. Não tenho expectativa da
aprovação de todos, nem trabalharei para receber elogios. Se conseguir terminar
estes três anos trilando a rota do Espírito Santo e agradando a Deus terei
cumprido a minha missão.
Que Deus
abençoe, aperfeiçoe e use cada um dos seus filhos membros da nossa Igreja para
em tudo dar a Glória que o Supremo Pastor, o Cabeça e Senhor da Igreja merece. Amém!
Rev.
Cloves Azevedo
João
Dourado, 26 de agosto de 2013
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