COMEMORAÇÃO DOS 107 ANOS DA IGREJA PRESBITERIANA DE JOÃO
DOURADO – BAHIA.
“Ouvimos,
ó Deus, com os próprios ouvidos; nossos pais nos têm contado o que outrora
fizeste, em seus dias (Salmos 44:1)
Coronel João Dourado |
A história de João Dourado e da Igreja
Presbiteriana do Brasil em João Dourado se mistura na sua origem. Na verdade João Dourado
(antigo canal de Irecê) nasceu dentro da Igreja. O primeiro filho gerado no
útero da mãe do presbiterianismo no sertão de Irecê foi o Coronel João Dourado,
por isso vamos contar um pouco desta história da bondade e fidelidade de Deus
que teve início com a conversão de João Dourado e sua família.
Primeiro
vamos conhecer ainda que de forma resumida a chegada da família DOURADO nesta
região. Descendentes de portugueses, em meados do século 18, o Sr. Mateus Nunes
Dourado, natural de Porto-Portugal, recebeu do governo da ainda província da Bahia uma área de terra próxima
a Jacobina (lugar das minas de ouro) e atraídos pelo garimpo ali fixou
residência com sua família.
Um
rico fazendeiro, membro da família dourado, Sr. João José da Silva Dourado (avô
do Cel João Dourado), comprou a fazenda Lagoa Grande, uma imensa área de
terra com vinte léguas, que engloba hoje os municípios da microrregião desde
América Dourada circulando por São Gabriel, Jussara, Central, Presidente Dutra,
Ibititá, Lapão e outros. Na época essa grande fazenda recebeu o nome de
América Dourada.
Do
casal João José da Silva Dourado e Guardiana Cardoso nasceram treze filhos,
dentre eles João da Silva Dourado, que se
casou com a senhora Carolina Cardoso Pereira. Fruto deste casamento nasceu
o Cel. João Dourado em Caetité - Bahia, no dia 07 de janeiro de 1854, que veio a casar-se
com a sua prima carnal Geraldina Brandelina da Silva Dourado em 1878 no município de Macaúbas (hoje
Paramirim).
A
ORIGEM DO CANAL
O
casal João Dourado e Geraldina fixaram residência em canal em 1888. Como eles
vieram parar exatamente aqui no antigo
canal? Segundo relato do Pb. Francisco Nunes Dourado (Seu Tico), João Dourado
morava na fazenda Angico (nas imediações de Soares de América Dourada) e trabalhava na roça e criava gado na fazenda Lagoa
Nova (pertencente hoje à família da irmã Constancinha). Percebendo um único
morro nas proximidades da sua fazenda em Lagoa Nova resolveu vê-lo de perto. A caminho do morro viu um lagedo. Na época ele
disse que iria morar ali, por ser um lugar de rochas e fácil de fazer
reservatório de água. O morro que ele viu é o morro das torres. O lagedo é o
lugar onde ele cavou diversos canais e encontrou água, dando assim origem ao
nome de canal, aonde João Dourado veio morar com sua família(o local referido
fica entre a casa de D. Dina e Pb. Louvrival voltando para o terreno próximo a
Câmara de Vereadores de João Dourado). Era uma grande casa com 22 cômodos.
A
fazenda canal se tornou uma das paradas dos boiadeiros que faziam a rota Goiás –
Piauí - Bahia. Um desses boiadeiros era o Cel Benjamim Nogueira, membro de uma
família importante de Corrente-PI, crente da Igreja Batista. Aqui tem início a
história da redenção espiritual da família dourado.
A CONVERSÃO DO CEL. JOÃO DOURADO
O Cel. Benjamim Nogueira em 1902,
conduzindo uma boiada com destino ao Morro do Chapéu, chegou até a fazenda
canal, onde pernoitou. Naquela noite preparada por Deus, antes de dormir o Cel.
Benjamim pediu autorização a João Dourado para ler a Bíblia antes de
dormir. Antes que Benjamim lesse a Bíblia, João Dourado pediu a todos os seus
filhos que fossem para o quarto. Leu a Bíblia aquela noite e foram dormir. No
dia seguinte se reuniram pela manhã para o café e o Cel. Benjamim pediu para
ler de novo a Bíblia. Desta feita, João Dourado, antes da leitura mandou chamar
toda a família para participar daquele momento. Conta a história que o Sr.
Benjamim leu a Bíblia, cantou um hino e deixou um exemplar da Bíblia com João
Dourado recomendando-o que lesse. Ele prometeu ler e fazer uma comparação com a
Bíblia católica. Impactado com a leitura da Bíblia, João Dourado seguiu para o
Morro do Chapéu à procura do Padre para que lhe emprestasse a Bíblia católica
para fazer uma comparação com a Bíblia dos protestantes. Não encontrando a
Bíblia com o Padre, o Cel. João Dourado, percorreu 360 km a cavalo até o Senhor
do Bonfim, onde conseguiu a tão almejada comparação das Bíblias. A partir
daquele momento João Dourado tomou a sua decisão por Cristo e passou a pregar o
Evangelho na região.
Em
1903 veio a cavalo de Senhor do Bonfim, onde residia, o missionário
presbiteriano Rev. Pierce Chamberlain. Ele conheceu o Cel. João Dourado em
Morro do Chapéu e este o convidou para visitar os lugares que ele já estava
evangelizando. Neste contato do João Dourado com Chamberlain aconteceu o
verdadeiro discipulado, pois as últimas dúvidas de João Dourado foram
dissipadas, ele foi batizado e continuou com mais vigor ainda a obra
evangelística na região. O missionário prometeu-lhe uma professora para
alfabetizar seus filhos e parentes. Em março de 1904 chegou a Canal a
professora Damiana Eleonor da Conceição.
A
FUNDAÇÃO DA IGREJA MÃE
No
dia 05 de fevereiro de 1905 a congregação da fazenda canal foi organizada em
Igreja, sendo o Pastor na organização, o Rev. William Waddell. Nesta ocasião o
Cel. João Dourado foi eleito presbítero juntamente com mais três membros da
família. Toda a Família do Cel. João Dourado foi batizada , fazendo parte do
primeiro rol de membros comungantes da igreja mãe. Nesta época a igreja já era
freqüentada por mais de cem pessoas.
Em
1906 o Rev. Waddell mudou-se para Ponte
Nova, onde fundou o Instituto Ponte Nova. Dos doze alunos iniciais, oito foram
enviados pelo Pb. João Dourado, sendo quatro
deles seus filhos.
O
Presbítero João Dourado foi um incansável desbravador do sertão com o Evangelho
de Cristo se espalhando por toda a microrregião a partir da Igreja Mãe. Além de
ser um evangelista destemida, João Dourado foi um visionário na educação e na
política.
DESCENDENTES
DO CASAL JOÃO DOURADO E GERALDINA
Deste
tronco abençoado nasceram quatorze rebentos, cujo ramos, grande parte deles
continua bem firmado na fé dos seus pais e são membros atuantes da igreja mãe:
Idalina, Maria Rosa, Damiana, Sinézio, Adolfo, Ana Geraldina, Carolina, Renerio,
Antônia, João, Elizabete, Deraldina e o Rev. Augusto que foi ministro na Bahia, Sergipe, Minas Gerais e
São Paulo e Altino.
A
MORTE DO Pb. JOÃO DOURADO
O
Pb. João Dourado faleceu aos 73 anos (dia 09 de julho de 1927). Conta os que
presenciaram este momento que ele mandou chamar a igreja em sua casa após o culto da quinta feira e naquela noite ele veio a falecer, recitando o
seu texto bíblico predileto: “Combati o bom combate, completei a carreira,
guardei a fé...” (II Tm.4:7-8).
AS LIÇÕES E REFLEXÕES DESTA HISTÓRIA
1. Temos uma
história para contar, mil motivos para bendizer ao Senhor por uma história
bonita da intervenção de Deus no sertão através da sua Igreja. Temos motivos de
gratidão a Deus por trazer de Portugal para esta região a família Dourado e a
história elucida muito bem a influência dos dourados na educação, na política,
na agricultura, na economia e na força do presbiterianismo nesta região.
2. Os pioneiros da fé Evangélica em João Dourado
enfrentaram muito mais dificuldades do que nós para servir a Cristo e
perseveraram deixando-nos um legado de fé e coragem na obra de Deus.
Naquela época não havia água, energia,
carro, eles vinham a pé, a cavalo, a jegue, no escuro, mas vinham aos cultos.
Num relato
escrito pelo Pb. José Augusto da Costa Dourado das dificuldades e perseguições
que a igreja mãe enfrentava naqueles dias. Ele conta que o seu Pai, o Sr. Zé
Costa (Cazuza) em 1907 mudou para Lapão
por causa da perseguição aos crentes aqui em Canal. As pessoas jogavam pedras
no local de reuniões dos crentes, desprezavam e ridicularizavam os crentes. Em
grandes períodos dos 107 anos desta igreja, principalmente em períodos de seca
como de 1929 a 1932 a igreja ficava sem pastor e quando vinham os pastores eram
para visitas. Segundo o Pb. José Augusto narra num relato da sua vida, a Igreja
passou um longo período sem enviar representante ao Presbitério. Sabe onde
aconteciam as reuniões de Presbitério?
Em Salvador e Sergipe. Como viajavam? No
lombo de um burro. Mas com todas estas dificuldades em 1935 a Escola Bíblica Dominical da Igreja
Mãe tinha mais de cem alunos, divididos em cinco classes. Em épocas de extrema
seca como a que estamos vivendo agora, o Cel. João Dourado pensou em ir embora
para São Paulo, mas ouviu do missionário Chamberlain que ele não podia deixar a
obra de Deus aqui na região e ele entendeu a direção do Senhor e aqui
permaneceu crendo que Canal seria uma grande cidade.
3. Os herdeiros da fé do patriarca João Dourado
tem a responsabilidade de buscar restauração espiritual para dar continuidade a história. Naquela época famílias inteiras se
assentavam nos bancos da igreja, porque seguiam a fé dos seus pais. Qual será o
futuro da família dos fundadores da igreja quanto ao Evangelho, se as novas
gerações não assumirem compromisso verdadeiro com Deus? João Dourado escreveu
sua história e você como está escrevendo a sua história?
4. O Evangelho é como um grão de mostarda.
Começou com a família dourado, hoje somos centenas de famílias alcançadas das
mais diferentes origens, cultura, tradição religiosa e classe social. O
Evangelho de Cristo rompeu fronteiras de família, classe social, cor e
religião.
5. Precisamos fazer uma avaliação do nosso
crescimento como igreja local e regional e da nossa influência na cidade e
região. Se há cento e sete anos atrás já
havia uma média de cem pessoas
freqüentando a igreja, estamos muito aquém do que deveríamos. O
presbiterianismo na região é forte, mas ainda não é o que deveria ser. Numa
região de mais de 500 mil pessoas ainda não passamos de 10 mil presbiterianos
com a determinação e ousadia que tiveram os nossos pioneiros como João Dourado.
Concluindo
este relato da história da IGREJA MÃE, vamos voltar a nossa mente e refletirmos
o que está escrito em Isaias 58:12: “Os teus filhos edificarão as antigas
ruínas, levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador
de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável”.
A
cidade João Dourado que nasceu dentro da igreja, cuja história se mistura com a
história do Evangelho nesta região, tem
a amarga tristeza de estar nas páginas
do noticiário regional e estadual nestes dias difíceis não apenas como uma cidade em
crescimento, mas também com os maiores
índices de consumo de drogas, álcool, prostituição, adultério, divórcio e violência.
Nas últimas semanas estamos assistindo ruas da nossa cidade empossadas de sangue, com uma média de um assassinato brutal por semana.
Deus
nos conclama nestes dias a edificar as antigas ruínas e levantar os fundamentos
da verdade que manteve de pé as gerações passadas. Vamos restaurar as veredas e
reparar as brechas, para que a nossa cidade se torne uma cidade de paz e
prosperidade, cuja história exalte o Rei da Glória.
Rev. Cloves Azevedo
(Fontes de Pesquisa: Historiador da IPB, o
Rev. Alderi de Souza Matos; Relatos escritos pelo Pb. Francisco Nunes Dourado
(Pb. Tico); Relato do Pb. José Augusto da Costa Dourado).
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