Quando chequei em Wagner, ainda menino, bem mateiro, tímido e carregado de complexos, frutos de uma infância com seus estigmas por causa da cor e da pobreza, não foi fácil encarar a cidade. Deus me levou à Igreja Presbiteriana naquela cidade e lá pude me sentir valorizado, amado e desafiado a romper barreiras, antes intransponíveis. Encontrei ali pessoas em quem me espelhei a passei a segui-las de perto. Nessa caminhada elas apontaram-me o caminho da Salvação. Dentre as figuras destacáveis a quem tanto devo, fora do raio da minha família, encontra-se a ilustre, mestra e mãe espiritual Dona Biló. Tive o privilégio de desenvolver com esta nobre senhora um relacionamento muito próximo desde a minha adolescência que muito marcou a minha vida. Era a casa que mais freqüentávamos (o grupo jovem da Igreja), na nossa adolescência e início da juventude em Wagner, Ali no quarto, na sala, na cozinha tomando cafezinho, no quintal chupando manga, junto com seus filhos, desfrutamos momentos felizes e de grande crescimento espiritual. Como Deus ministrava aos nossos corações naqueles encontros para conversar, ler a bíblia e orar! Nestes encontros informais em sua casa os primeiros toques e despertamento quanto ao chamando ministerial que veio a confirmar logo depois.
Trabalhei um tempo no Mercadinho Almeida ao lado de Biló e Srº João Almeida como empacotador e como era bom e agradável essa companhia. Aos finais dos sábados ainda nos suportava em sua casa fazendo muito barulho e esvaziando a sua dispensa. Considero a convivência de boa parte da nossa juventude da Igreja Presbiteriana de Wagner com Dona Belamy, um modelo de discipulado eficaz que muito contribuiu para a formação do nosso caráter Cristão e o nosso compromisso com Reino de Deus. Ela era muito paciente, longânima e amorosa conosco. Os grandes valores éticos, morais e espirituais sustentados e definidos por homens e mulheres de Deus, dentre eles, a nossa guerreira Belamy, influenciou toda uma geração de jovens. Ela ensinava-nos patriotismo, civismo, nacionalismo, boas maneiras e muito amor a nossa cidade. Wagner na época era a nossa Jerusalém, a cidade da paz e tranqüilidade invejável, a “Ponte Nova que mexe com a gente...”, como cantava orgulhosamente a sua filha Rosângela Macêdo (Rosinha). Biló, como costumava chamar-lhe, fez da educação um sacerdócio e dedicou seus anos da juventude até a velhice por esta causa na escola e na Igreja. Sabia ensinar mesclando princípios da pedagogia tradicional com os postulados da nova pedagogia sem ser retrógada arcaica e ao mesmo tempo sem ser pós moderna e liberal. Era criativa, dinâmica e envolvente, utilizando recursos didáticos originais, atraentes, ainda que sem usar a tecnologia moderna. Tinha autoridade para ensinar, sem ser autoritária. Era firme nos seus conceitos e valores Cristãos, sem ser rígida e antipática. Rica de contos e ilustrações, sem ser evasiva no conteúdo do seu ensino. Seus anos de experiência e sua insaciável dedicação aos livros transformou-a numa verdadeira pedagoga e mestra, ainda que sem um diploma universitário. O seu conhecimento era sim, universitário, catedrático, simples e profundo.
Biló era incansável e determinada também nas causas de Cristo e da Igreja. Uma mulher de oração, intercessora apaixonada por vidas, serviu à sua geração conforme o desígnio de Deus. Amiga, conselheira e intercessora de uma geração de pastores, dentre estes eu me incluo, pois sempre fui encorajado por suas palavras e gestos de amor Cristão.
Aprouve ao Senhor tomar para si esta jóia preciosa no último dia 03/11/2010. Ficou bem vivo em nossa memória seu exemplo e inspiração de mestra do bem, mãe, esposa dedicada, mulher virtuosa, cujas virtudes merecem o nosso reconhecimento e nossa gratidão. Ela ficará não só na memória dos filhos de Wagner, mas de todos que conviveram com ela, como exemplo e inspiração de amor a Deus, à família, à pátria a sua terra. Sua vida é um exemplo para todos nós.
Rev. Cloves Azevedo de Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá!
Breve postaremos seu comentário. Deus te abençoe.